quinta-feira, novembro 30, 2006

Finalmente existem designers em Portugal

É com grande satisfação profissional que escrevo as linhas abaixo!

Ao fim de 30 anos de existência da APD e 33 dos cursos de design, finalmente o estado assume que existem profissionais de design em exercício em Portugal.

A Assembleia da República Portuguesa aprovou a colocação para o ano de 2007 da profissão de designer com o código 1336 no Código do IRS (art. 151º).

Na calha também já está um CAE (Código de Actividade Económica) específico para a actividade de Design (74100 - Actividades de Design) que permitirá a constituição de empresas do sector em Portugal especificamente para esta actividade.

A Classificação Nacional de Profissões (CNP) gerida pelo IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) também está praticamente pronta e irá sair em breve com o código 2456 - Designers.

Isto diz claramente do interesse que o sector tem para o estado e para Portugal e da aposta forte que Portugal faz nos designers.

Não seria possível outro caminho.

Tendo em conta que existem 88 cursos de Design em Portugal, dos quais 3 são bacharelatos, 16 são bacharelatos+licenciaturas, 41 são licenciaturas, 8 pós-graduações, 16 mestrados e 4 são doutoramentos. Tendo em conta que destes 88, 63 foram inaugurados desde 1996 (71,6%).

Destes 88 cursos , 24 (27,3%) são de Design Industrial (ou produto, ou equipamento); 6 (6,8%) são de Design de ambientes, interiores e iluminação; 19 (21,6%) são de Design Gráfico, de comunicação ou visual; 8 (9,1%) são de Webdesign ou multimédia; 4 (4,5%) são de design têxtil ou de moda; 12 (13,6%) são de "design"só e apenas; e dentro do campo ainda mais 15 (17%) em outras actividades diversas mas também do campo.

Considerando que desde 1994 foram abertas 28007 vagas (17236 - Público; 10771 - Privado) em cursos superiores de design (crescimento anual médio de 11%) - para termos uma noção de escala em Arquitectura foram 21411 com os mesmos critérios no mesmo período; neste período foram formados 11932 designers (7837 arquitectos) tendo o sector disponível anualmente em média 994 designers neste período.

Existem 35 designações diferentes dos cursos (bastam 6 ou 7) e estima-se que estejam no activo cerca de 18000 profissionais (considerando que entre 1976 e 1994 tenham saído para o mercado 6000 profissionais).

A este ritmo seremos 38000 em 2016 pois em 2006 irão sair 1600 diplomados.

(FONTE: MCTES - DGES).

Assim está visto que é um sector em crescimento, que traz mais valias ao país consideráveis ao nível do reconhecimento e imagem dos nossos produtos, empresas e marcas e que de facto tem uma grande eficiência pois é uma actividade que por si só não consome recursos como a indústria e o turismo, as pescas e a agricultura, adicionando valor com poucos inputs.

É um sector que dinamiza as empresas e traz por si só inovação e que decerto, face ao talento e aos prestigiados prémios já angariados pelos designers portugueses, nos dará imensos benefícios.

Parabéns a todos os designers. Força e motivação para todos para podermos ajudar o país!

sábado, novembro 04, 2006

Mais Inovação nas Nossas Empresas.

Segundo vários estudos recentemente publicados, Portugal apresenta claramente um défice de investimento e aplicação de investigação e desenvolvimento, nomeadamente no sector empresarial.

Três estudos em particular, dois sobre rankings de empresas (“Department of Trade and Industry, DTI” do Reino Unido (RU) intitulado “R&D Scoreboard 2004” que identifica as principais empresas que desenvolvem actividades de I&D no RU, e “Monitoring Industrial Research: the 2004 EU Industrial R&D Investment Scoreboard”) e outro intitulado “European Innovation Scoreboard (EIS) 2004, Comparative Analysis of Innovation Performance” publicado pela União Europeia (que analisa a performance dos países europeus, a 15, a 25, e com os EUA e o Japão e alguns países da Europa, não pertencentes à EU), não apresentam boas perspectivas para Portugal.

De facto, não há nem uma única empresa portuguesa no Top 700 em I&D (Scoreboard do RU), nem no TOP 500 da UE, mas também é necessário frisar que, das empresas que lideram em I&D, 85% são oriundas de cinco países, EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido (Scoreboard do RU). Outros aspectos menos positivos são a pequena quantidade de patentes apresentadas por Portugal, facto também revelado no estudo da EU e o fraco desempenho em termos educativos dos recursos humanos nacionais.

Segundo a Estratégia de Lisboa, resultante do Conselho Europeu de Lisboa em Março de 2000, é necessário recorrer a uma reformulação de todas as macro políticas no sentido de caminharmos para este tipo de economia. Foram aí definidos objectivos claros da União Europeia, até 2010, na senda pela liderança da economia que se apresenta como crucial no séc. XXI, a Economia do Conhecimento.

Partindo também de um pressuposto positivista, Portugal para continuar a crescer, terá que caminhar no sentido de competir cada vez mais com os países que estão no Top 25 mundial em desenvolvimento e produtividade.

Assim, como afirma Lord Sainsbury of Turville, Parliamentary Under Secretary of State for Science and Innovation, do RU, “a Inovação é o coração do crescimento da produtividade, e a Investigação e Desenvolvimento são dois factores-chave da Inovação.” ( in R&D Scoreboard, 2004:16).

Ou seja, cada vez mais é necessário que as empresas portuguesas desenvolvam produtos recorrendo a tecnologia desenvolvida pelos centros de investigação, Laboratórios do Estado e Universidades, ou mesmo solicitando investigação específica para utilização nesses produtos ou no seu processamento.

Para isto deverão criar mecanismos de comunicação com os Centros de Investigação para poderem proceder ao desenvolvimento e comercialização dessas novas tecnologias. Terão que contar com interlocutores com formação em transferência de tecnologia que dominem estes processos. Estes poderão ser contratados para os quadros das empresas ou ocasionalmente como consultores.

Deverão também contar com centros de pesquisa de mercado para que estes avaliem as necessidades de futuro próximo dos mercados que se determinem como destinatários dos seus produtos, para poderem orientar correctamente o desenvolvimento dos novos produtos.

É certo que apenas surgirão patentes se houver interesse de aplicação comercial de novas tecnologias e soluções. Ou seja, também os centros de investigação devem orientar a sua actividade com vista à aplicação comercial de parte dos seus desenvolvimentos, podendo inclusive assim usufruir de mais financiamentos dando prioridade para as tecnologias mais urgentes.

Novos investimentos nos recursos humanos, na criação de novo conhecimento, na transmissão e aplicação desse conhecimento, são fundamentais para alcançarmos estes objectivos assumidos pela UE em Lisboa.

domingo, outubro 08, 2006

Os Designers são empreendedores?

O empreendedorismo é outra área que toda a gente menciona como fundamental para a criação de emprego e de crescimento.

Entendemos por empreendedorismo o fenómeno que leva indivíduos e organizações a lançarem actividades (económicas ou não) que se traduzam em benefícios para a sociedade em geral. É o que dá origem às empresas!

Ora em final de 1999 o Centro Português de Design, no seu "Observar o Design" constata que 66% dos Designers trabalha por conta própria, sendo que destes 32% numa empresa de design.

Qual a área de actividade profissional isto sucede?

Mesmo quando um designer chega a uma organização, especialmente se esta não fôr da área do design, este tem de manifestar a sua grande vontade de mudança à organização, educando toda a organização de forma a que esta fique sensível às necessidades de mudança de hábitos que os designers tentam regularmente incutir.

Temos cerca de 2100 designers a entrar actualmente em cursos superiores, temos cerca de 25 000 designers profissionais em actividade.

Se calhar temos um cluster nacional de design em que não estamos a promover nem a apoiar o seu desenvolvimento, mas que apesar das contrariedades se desenvolve, cresce e apresenta índices de produtividade elevados.

Estes jovens "freelancers" são o futuro e devem ser apoiados.

Devem também eles candidatar-se a apoios, e existem diversas organizações que os podem ajudar a desenvolver os seus negócios e a empreenderem novas actividades que criem emprego, não só para os designers para para a sociedade em geral.

Vamos ver como se vai desenvolver!

Inovação é o nosso modo de vida!

A Inovação está na ordem do dia!

Este neomodismo (ou chavão) está cada vez mais presente na literatura periódica e não periódica.

Mas apesar de cada vez mais se produzir investigação sobre o tema, ainda não estão bem definidas as linhas para a sociedade em geral.

Entendemos a Inovação como a mudança donde se retira valor, sendo que a mudança poderá ser num produto, num processo, numa organização, na cultura, legal etc. o que faz desta algo de transversal à nossa sociedade. O valor por outro lado pode ser ecológico, económico, social, cultural etc.

A Inovação é constante!

Tudo muda constantemente, se há algo que permanece é a mudança.

À constatação de que esta mudança ocorre e ao facto de podermos usufruir positivamente dela convencionou-se denominar de Inovação.

Cada vez mais intervenientes dão à Inovação o mérito pelo crescimento económico, pelas melhorias de condições de vida, por uma sociedade mais equilibrada e justa. Noutros tempos chamar-se-ia revolução a este processo, sendo que este termo tem mais carga política que o corrente Inovação.

A Inovação é de todos!

Mas há aqueles que fazem desta o seu modo de vida. E nestes estão inequivocamente os designers. Oriundos dos meandros dois grandes corpos da cultura, a Arte e a Ciência (ou Técnica como diria Francastel) os Designers regem-se por modelos de processo oriundos da Arte e da Técnica. Ora a Arte nunca se repete, sendo o princípio de vanguarda artística um princípio fundamental na evolução artística e a evolução científica outra verdade incontestável que leva à superação constante dos princípios anteriormente aceites como verdades, o Design enquanto campo do conhecimento usufrui destas duas vertentes de desenvolvimento ou motores de mudança que raramente permitem ao Design (ou Designer) surgir como algo recorrente ou repetente.

Inovação é o nosso modo de vida!

Nós os designers somos inovadores por definição. Lutamos contra a manutenção do mundo como está, propomos constantes revoluções, e sentimos-nos inibidos em avançar mais rapidamente pois a inércia cultural e social não negativa, mas existente reduz a capacidade de absorção de novidades mais rapidamente.

Todos se queixam da dificuldade de produzir Inovações Radicais, isto é, as que mudam completamente de paradigma, limitando-se às Inovações Incrementais, ou seja, melhorias constantes dentro do mesmo paradigma. Os designers com facilidade podem produzir este tipo de Inovações Radicais, sendo este o seu principal modo de vida. Um designer fica frustrado se o impedem de inovar!

Mais designers a inovar!

Assim com a integração de designers nas organizações seja ao nível operacional, como ao nível táctico e ao nível estratégico poderemos obter grandes vantagens competitivas sobre as organizações que não o façam. Os designers não devem servir para que as organizações atinjam objectivos do Marketing ou da Engenharia ou de outra qualquer área, mas sim para que as organizações inovem, mudem, e retirem valor desta mudança. E acreditamos que só com um grau de independência o Design se pode mostrar como gerador de mudança. Defendemos o CED (Chief Executive Designer) nas organizações como forma de alavancar mais rapidamente estas mudanças. Uma voz ao mais alto nível numa organização demonstrando as vantagens do design enquanto ferramenta de diferenciação, pode impulsionar essa organização para um nível muito acima do da competitividade económica.

O tempo o confirmará!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Quanto mais se baixa as calças....

... mais se vê o rabo.

Esta é a máxima para a concorrência desleal.

Em Portugal, está instituída uma cultura de borlas para trabalhos de Design. Os contratantes entendem que não devem pagar por estes serviços.

Se em relação ao Design 3D se consegue de alguma forma argumentar, em relação ao Design 2D as coisas complicam-se. Ninguém quer compreender que leva tempo desenvolver soluções, que estas são desenvolvidas como actividade profissional, utilizando software que alguém terá que pagar, e que a alternativa é vender papel tingido monocromático, pois daí para a frente apenas o designer é o profissional habilitado a trabalhar.

Acredito que a principal culpa desta situação não é dos clientes de design, mas dos próprios designers, por não conseguirem argumentar junto dos clientes. Os clientes limitam-se a defender da melhor forma que conseguirem os seus interesses, ao contrário da maioria dos designers.

Há uma prática de mercado comum e criminosa (punida por lei) de "Dumping", literalmente despejo para o mercado a baixos preços.

Porquê estes baixos preços? Os jovens licenciados na expectativa de acumular currículo trabalham quase pagando, para mais tarde usufruirem desta experiência acumulada. Talvez porque gostam do que fazem e não se importam de o fazer de borla. Recordo que logo à entrada o IEFP ajuda a garantir um salário de dois ordenados mínimos nacionais para licenciados.

Saem da Faculdade para estágios, os que se fartam dos estágios lançam empresas onde colocam estagiários...

Outra prática corrente é os recibos verdes. Não há alternativa para muitos profissionais. O problema é que muitos se esquecem que têm de declarar eles próprios para a Segurança Social, ficando numa situação precária sem quaisquer direitos e em caso de azares, enfim.

Agora voltando às entidades patronais, esquecem que as coisas levam tempo a fazer e assumem compromissos impossíveis. Mais uma vez a diferenciação do mercado é feita à custa dos designers que têm de trabalhar dia e noite para cumprirem prazos impossíveis. Para estes prazos serem cumpridos, a empresa de design teria de ter uma disponibilidade de meios que tornariam inviável esta rapidez de serviço.

Não há empresa de design em Portugal que não use computadores e software para o seu trabalho. É óbvio o nº de licenças piratas que para aí andam. Quem não paga licenças também não cobra para licenças.

Dados estes pressupostos, vemos claramente porque surgem os preços baixos que prejudicam essencialmente os designers.

A grande maioria não calcula preços de custo e preços de venda, não calculando preços de custo muitos pagam para trabalhar, e passam por incompetentes por não o fazerem.

Aparecem em reuniões com trabalhos e sem preços ou preços dados a olho, não negoceiam e acabam muitas vezes por apresentar o mesmo trabalho por metade do preço se o cliente insistir.

Regra geral, não se salvaguardam com cláusulas de confidencialidade, não fazem cadernos de encargos (briefing), não identificam todas as artes finais com a autoria, não registam nem tiram partido comercial do registo, entregam as artes em formatos editáveis sem receberem os valores acordados, raramente pedem entradas para iniciar os trabalhos.

Têm receio de perder clientes? Então mas todas as actividades também têm receio de perder clientes. Clientes assim que fiquem para a concorrência. Se a concorrência ficar com eles rapidamente terão um negócio insustentável.

Qualquer marca automóvel por cada hora de manutenção num veículo cobra acima dos 30 € por hora. E quem pode falar de falta de concorrência no sector automóvel? Simplesmente limitam-se a cumprir a lei e a cobrar em função dos custos que têm, e facturam.

Antes não trabalhar que trabalhar para aquecer.

Abram os olhos e valorizem o trabalho de Design!

domingo, setembro 10, 2006

Formação desajustada!

Os cursos em Design em Portugal têm crescido como cogumelos. Está na moda ter um curso de design na lista de cursos das Universidades e Politécnicos.

Se olharmos para o nº de doutorados e mestrados em design que leccionam nestes cursos temos uma pequena ideia do que vai mal no ensino do design. Apesar da situação estar gradualmente a ser invertida, ainda há poucos mestres e doutores em design a formar e a coordenar os cursos. Mesmo estes têm uma prática profissional pouco consistente ou inexistente para a poderem transmitir aos seus alunos.

Os problemas são de variadíssima ordem, desde falta de professores com formação adequada, conteúdos desajustados, coordenadores inadequados, exageradas designações de cursos, falta de condições, falta de alunos, inadequação dos cursos colocados em regiões inapropriadas, de entre muitos outros.

Nós temos mais designações de cursos e Universidades e Politécnicos do que (apenas como exemplo) Espanha. Um estudo apontou cerca de 1200 para 300 (estou a citar de memória) designações de Portugal e Espanha respectivamente.

Creio que uma preocupação nossa é o facto de apenas 1% dos mestrados criarem empresas em Portugal enquanto que em média anda nos 10% nos nossos parceiros Europeus e da OCDE.

Conclusão: Fazem-se maioritariamente mestrados de Hobies em Portugal, em vez de prepararem os mestrandos para o empreendedorismo e criação de riqueza e de emprego (mais uma questão que ainda não estamos preparados para responder).

Não podemos esquecer que o problema da pobreza que nos aflige deve-se muito à falta de emprego, e que esta se deve à falta de crescimento, que se deve à falta de actividades de maior valor acrescentado produzido não pelo estado mas pelas empresas, que neste momento são maioritariamente geridas por pessoas pouco qualificadas para o efeito, que gerem negócios pouco diferenciados.

Precisamos de empreendedores de empresas de elevado valor acrescentado. Ver o que a organização britânica "Designtrust" fez para aumentar o nº de empreendedores designers no reino unido.

É este o principal motivo que me leva a escrever este Blog e a colaborar activamente pelo Design em Portugal. É por acreditar que o Design enquanto motor de inovação pode gerar diferenciação nos nossos produtos, criar mais valor, gerar crescimento e emprego nas nossas empresas e por acreditar que podemos melhorar o bem estar geral.

Vejamos como os sponsers da selecção alemã no Mundial são: Mercedes Benz e Adidas, duas marcas que muito fizeram para colocar a Alemanha no nível actual de riqueza. Vejamos como é o mobiliário quando fala o governo alemão (é todo Made in Italy, pois claro!). Vejamos como o nosso Sócrates usa Armani .... (eu enquanto desempregado do sector têxtil nacional não tinha remorsos de lhe mandar uma tarte de nata se pudesse).

Os países mais desenvolvidos têm políticas nacionais concertadas e utilizam o design como ferramenta estratégica de desenvolvimento! Nós só temos de demonstrar isto ao governo e pedir que assim seja no nosso país também.

Sem os macromecanismos de ajuste que tínhamos antes do Euro como a emissão de moeda para baixar o valor dos nossos produtos, bem como a emissão de títulos do tesouro estamos mal.

Temos de usar o que temos para gerar riqueza e temos muita criatividade e capacidade de inovação desaproveitada!

sábado, setembro 02, 2006

Ordem no Design

Desde a institucionalização dos cursos pioneiros de Design em Portugal e o dia de hoje, já decorreram quase três decénios. Assim não se pode falar da problemática de uma profissão nova, mas de uma velha actividade que entre nós nunca foi definida em concreto, isto é, nunca foi aos olhos dos agentes legisladores devidamente enquadrada.

O sector do Design ainda sofre diariamente por parte dos órgãos de comunicação social e não só, do complexo de estrangeirismo inerente à sua designação entre nós (o que não sucedeu com nuestros hermanos que distinguem entre diseño e dibujo).

Talvez seja necessário aportuguesar a palavra “design”, para outra como por exemplo “dezaine”, e inerentemente “designer” para “dezaineiro” ou “desainecto” ou “dezainante”. Isto sucedeu a outras como “bidet” para “bidé” ou “briefing” para “brifingue”. Isto não é desrespeitar a língua de Camões e Pessoa, mas simplesmente deixar evoluir fluentemente a língua como tem sucedido com a linguagem humana. Devo recordar que há bem pouco tempo “Farmácia” se escrevia “Pharmácia”, e “Águas” respectivamente “Agoas”, e não deixou de se perceber o seu sentido enquanto “coisa”. Mas de referir que design é um substantivo e não um adjectivo, como diariamente o vemos tanto na imprensa como utilizados pelos criativos de agências publicitárias. Não se deve dizer “com mais design” ou “cheio de design”, uma vez que tudo o que é “design” ou foi alvo de projecto e estudo de forma organizada, ou simplesmente foi efectuado sem esta organização típica dos profissionais.

Linguística em diante, existem aos olhos destes agentes algumas situações em que design foi definido em diplomas oficiais. Por exemplo, os Estatutos do CPD, a aprovação de diversas licenciaturas, etc. Assim não se pode falar de um desconhecimento do campo.

Ora num período em que tanto se fala de uma crise estrutural (e não conjuntural) no nosso país, é de estranhar que ainda se fale em captar o investimento estrangeiro (esperemos que não de multinacionais em busca de mão de obra barata, que assim que encontrarem uma melhor proposta se deslocalizam), e não se entenda que para Portugal equilibrar contas deve exportar, e quanto mais melhor, produtos da tecnologia nacional, e de identidade nacional, e não meras réplicas das feiras internacionais.

É aqui que nós, Designers, devemos prestar a nossa contribuição para o evoluir da nossa sociedade na era da globalização.

É aqui que nós contribuímos para a construção social, prestamos o nosso serviço público, pagamos a dívida que temos perante o estado que nos tem financiado os estudos.

Todos estamos de acordo que a nossa sociedade actual é assumidamente materialista. Logo devemos apostar naquilo que as pessoas sempre necessitarão. Produtos materiais, serviços rápidos e eficientes.

Como pode uma empresa prestar um serviço ao cliente positivo, se nos seus centros de decisão ninguém tem formação ao nível de licenciatura, mestrado ou doutoramento (como acontece nas grandes multinacionais que tão bem exploram a mão de obra barata disponibilizada por subempreiteiros sem escrúpulos de países terceiro mundistas, países em vias de desenvolvimento, ou de periferia) para opinar acerca dos produtos que a empresa vende. Ou continuaremos a assistir ao comentário “azul não, que eu não sou do Porto” ou “nunca gostei de verde”, por parte de administradores ou gestores de topo.

Temos de apostar em novas empresas de investigação e desenvolvimento cuja área de actividade não está na produção industrial, mas nos órgãos de decisão de produtos a produzir, na gestão da complexa logística da produção em massa, na formação de técnicos especializados, e de controlo de qualidade das empresas que prestam serviços de fornecimento de componentes dos produtos finais.

O que se pedem são novas empresas que tenham como principais actividades a investigação direccionada, a concepção e integração, o estudo da viabilidade, a implementação e distribuição. Estas é que são as empresas da globalização actual, as empresas motor na economia do G7.

Daí a importância do que se nos avizinha.

A desorganização e a pouca importância atribuída ao Design actualmente em Portugal tem de terminar.

Até agora o elo mais fraco entre as instituições tem sido o dos Profissionais. Vamos ver se ganham maturidade para reconhecerem a necessidade de em conjunto se organizarem e demonstrarem estas incumbências, aos órgãos legisladores e à sociedade nacional em geral.

domingo, agosto 27, 2006

Planear o Design em Portugal

Decidi publicar este meu texto de 2002 como ponto de partida para os posts que se seguem.

"É certo, para todos os intervenientes do Design em Portugal, que a área não se tem vindo a assumir com a preponderância que seria necessária e desejável. Das escolas saem cada vez mais licenciados, para um mercado de trabalho que teima em não se alargar, onde os industriais cada vez mais investem naquilo que sentem que lhes faz falta, mas que nem sempre se traduz em algo mais do que investimentos vãos.

As associações industriais dos vários sectores apostam em centros de investigação conjuntos, pagam fortunas para apostar numa qualidade virada para eles mesmos. Isto é, quando se fala que tem de se apostar cada vez mais na qualidade, as empresas procuram certificar, não os produtos que produzem cuja qualidade só pode ser atribuída pelos Designers, mas sim os seus processos produtivos para que possam ostentar um reconhecimento por uma instituição que não deriva do consumidor mas sim do próprio mundo produtivo.


Portugal não pode continuar a posicionar-se pela mão-de-obra barata pois não poderá concorrer com os países que integram o grupo do alargamento. Logo as empresas portuguesas têm que apostar na qualidade, mas não nessa qualidade instituída, tem que apostar na qualidade intrínseca aos produtos, que deriva de um correcto processo de projecto, realizado por equipas lideradas por Designers.

Uma análise aprofundada mostrará que nos países com a economia mais pujante apenas são mantidos os cérebros das empresas, não a produção. É nesta qualidade do produto em si, fundamentalmente, e não tanto na qualidade dos processos de produção, que devemos evoluir para melhorar o produto final. A economia dos países mais ricos (ex: G7), com um forte peso na exportação nos bens de consumo baseia-se nestes pressupostos.

Diz-se há muito tempo que sem ovos não se fazem omoletas, como podemos desenvolvermos sem termos fundos para isso.
Não é com mais endividamento ao estrangeiro que se pode fazer esse desenvolvimento tão necessário para nos aproximarmos das metas Europeias.

Não, não somos um país pequeno.


Não, não somos um mercado pequeno.

Não, não somos um país de preguiçosos.

Poderia chamar exemplos de países mais pequenos e mais mal situados que são mais ricos, e produtivos que o nosso. O Luxemburgo com um grande número de portugueses é a economia mais produtiva da União Europeia. Made in Taiwan ou em qualquer outro país asiático sempre presente em tudo o que compramos. O Japão com tão poucos recursos naturais.

O mais difícil de ver é o que está à frente.


Temos um posicionamento geográfico extraordinário, pois somos o umbigo do mundo ocidental, muito por culpa dos timoneiros que tivemos e que agora nos faltam. Foram eles que deram ao mundo a disposição que hoje tem.

Todas as rotas de matéria-prima passam ao largo da nossa costa para irem para um qualquer país da Europa Central para que moldem essa matéria-prima para que seja distribuída de novo por todo mundo inclusive Portugal. Voltam os cargueiros a passar ao nosso largo.

A única coisa que se alterou nessa matéria foi a sua organização que passou para um bem de consumo. A este processo chamamos Design, materialização de ideias, isto é, transpor para a matéria a cultura, a tecnologia e os saberes desses países.


Já assim é desde os descobrimentos, pois muito embora os portugueses tenham encontrado o caminho marítimo para Índia, nunca fizeram o trabalho de casa tão explorado por Kant que encontrou o mundo sem sair da sua terra.

Temos cada vez mais gente à altura e ainda exportamos gente competente.
Podemos criar as infra-estruturas a isso necessárias, e mais do que isso utilizar as vias de um sentido que têm vindo a ser construídas não para importar, mas cada vez mais para transformar e exportar.


Terá sido um português que disse que Portugal seria um país sujeito ao turismo e aos serviços?

Qual é o país que sobrevive com uma economia forte com base nestes sectores?

Quantos países viram desbaratados os seus sectores piscatório e agrícola?

Quantos são os países lusófonos no mundo? E o potencial peso da sua economia?

E porque é que a França subsidia estudantes das suas ex-colónias, divulgando o francês como língua oficial?

Será para manter poder sobre elas? Não é a palavra mais forte que a espada.

O peso da Commonwelth não se tem vindo a alargar e a sobrepor ao da CPLP?

Não é a indústria musical e cinematográfica um veículo da propaganda norte americana que conseguiu concretizar o sonho de Hitler?

É necessária para Portugal uma estratégia global nacional para que nos possamos desenvolver."

Posto isto, tenho alguma esperança no plano da Estratégia de Lisboa e no Plano Tecnológico.

Estaremos cá para ver.

domingo, agosto 20, 2006

Para serve este Blog?

Será neste blog que farei o registo de diversas reflexões sobre a minha actividade profissional.

Sou designer.

Como designer, acredito que a minha profissão pode ajudar no desenvolvimento das sociedades.

Seja no desenvolvimento social ou cultural, económico e ecológico, seja na melhoria das condições de vida das pessoas.

Todos os artigos que serão publicados serão no sentido de melhorar e acelerar o desenvolvimento do design em Portugal, clarificando as diversas temáticas.

Tentarei nem que seja uma vez por semana colocar um artigo, muito embora nem sempre haja assuntos para esmiúçar e vontade de o fazer.

Um grande bem haja!