sábado, setembro 02, 2006

Ordem no Design

Desde a institucionalização dos cursos pioneiros de Design em Portugal e o dia de hoje, já decorreram quase três decénios. Assim não se pode falar da problemática de uma profissão nova, mas de uma velha actividade que entre nós nunca foi definida em concreto, isto é, nunca foi aos olhos dos agentes legisladores devidamente enquadrada.

O sector do Design ainda sofre diariamente por parte dos órgãos de comunicação social e não só, do complexo de estrangeirismo inerente à sua designação entre nós (o que não sucedeu com nuestros hermanos que distinguem entre diseño e dibujo).

Talvez seja necessário aportuguesar a palavra “design”, para outra como por exemplo “dezaine”, e inerentemente “designer” para “dezaineiro” ou “desainecto” ou “dezainante”. Isto sucedeu a outras como “bidet” para “bidé” ou “briefing” para “brifingue”. Isto não é desrespeitar a língua de Camões e Pessoa, mas simplesmente deixar evoluir fluentemente a língua como tem sucedido com a linguagem humana. Devo recordar que há bem pouco tempo “Farmácia” se escrevia “Pharmácia”, e “Águas” respectivamente “Agoas”, e não deixou de se perceber o seu sentido enquanto “coisa”. Mas de referir que design é um substantivo e não um adjectivo, como diariamente o vemos tanto na imprensa como utilizados pelos criativos de agências publicitárias. Não se deve dizer “com mais design” ou “cheio de design”, uma vez que tudo o que é “design” ou foi alvo de projecto e estudo de forma organizada, ou simplesmente foi efectuado sem esta organização típica dos profissionais.

Linguística em diante, existem aos olhos destes agentes algumas situações em que design foi definido em diplomas oficiais. Por exemplo, os Estatutos do CPD, a aprovação de diversas licenciaturas, etc. Assim não se pode falar de um desconhecimento do campo.

Ora num período em que tanto se fala de uma crise estrutural (e não conjuntural) no nosso país, é de estranhar que ainda se fale em captar o investimento estrangeiro (esperemos que não de multinacionais em busca de mão de obra barata, que assim que encontrarem uma melhor proposta se deslocalizam), e não se entenda que para Portugal equilibrar contas deve exportar, e quanto mais melhor, produtos da tecnologia nacional, e de identidade nacional, e não meras réplicas das feiras internacionais.

É aqui que nós, Designers, devemos prestar a nossa contribuição para o evoluir da nossa sociedade na era da globalização.

É aqui que nós contribuímos para a construção social, prestamos o nosso serviço público, pagamos a dívida que temos perante o estado que nos tem financiado os estudos.

Todos estamos de acordo que a nossa sociedade actual é assumidamente materialista. Logo devemos apostar naquilo que as pessoas sempre necessitarão. Produtos materiais, serviços rápidos e eficientes.

Como pode uma empresa prestar um serviço ao cliente positivo, se nos seus centros de decisão ninguém tem formação ao nível de licenciatura, mestrado ou doutoramento (como acontece nas grandes multinacionais que tão bem exploram a mão de obra barata disponibilizada por subempreiteiros sem escrúpulos de países terceiro mundistas, países em vias de desenvolvimento, ou de periferia) para opinar acerca dos produtos que a empresa vende. Ou continuaremos a assistir ao comentário “azul não, que eu não sou do Porto” ou “nunca gostei de verde”, por parte de administradores ou gestores de topo.

Temos de apostar em novas empresas de investigação e desenvolvimento cuja área de actividade não está na produção industrial, mas nos órgãos de decisão de produtos a produzir, na gestão da complexa logística da produção em massa, na formação de técnicos especializados, e de controlo de qualidade das empresas que prestam serviços de fornecimento de componentes dos produtos finais.

O que se pedem são novas empresas que tenham como principais actividades a investigação direccionada, a concepção e integração, o estudo da viabilidade, a implementação e distribuição. Estas é que são as empresas da globalização actual, as empresas motor na economia do G7.

Daí a importância do que se nos avizinha.

A desorganização e a pouca importância atribuída ao Design actualmente em Portugal tem de terminar.

Até agora o elo mais fraco entre as instituições tem sido o dos Profissionais. Vamos ver se ganham maturidade para reconhecerem a necessidade de em conjunto se organizarem e demonstrarem estas incumbências, aos órgãos legisladores e à sociedade nacional em geral.

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