domingo, agosto 27, 2006

Planear o Design em Portugal

Decidi publicar este meu texto de 2002 como ponto de partida para os posts que se seguem.

"É certo, para todos os intervenientes do Design em Portugal, que a área não se tem vindo a assumir com a preponderância que seria necessária e desejável. Das escolas saem cada vez mais licenciados, para um mercado de trabalho que teima em não se alargar, onde os industriais cada vez mais investem naquilo que sentem que lhes faz falta, mas que nem sempre se traduz em algo mais do que investimentos vãos.

As associações industriais dos vários sectores apostam em centros de investigação conjuntos, pagam fortunas para apostar numa qualidade virada para eles mesmos. Isto é, quando se fala que tem de se apostar cada vez mais na qualidade, as empresas procuram certificar, não os produtos que produzem cuja qualidade só pode ser atribuída pelos Designers, mas sim os seus processos produtivos para que possam ostentar um reconhecimento por uma instituição que não deriva do consumidor mas sim do próprio mundo produtivo.


Portugal não pode continuar a posicionar-se pela mão-de-obra barata pois não poderá concorrer com os países que integram o grupo do alargamento. Logo as empresas portuguesas têm que apostar na qualidade, mas não nessa qualidade instituída, tem que apostar na qualidade intrínseca aos produtos, que deriva de um correcto processo de projecto, realizado por equipas lideradas por Designers.

Uma análise aprofundada mostrará que nos países com a economia mais pujante apenas são mantidos os cérebros das empresas, não a produção. É nesta qualidade do produto em si, fundamentalmente, e não tanto na qualidade dos processos de produção, que devemos evoluir para melhorar o produto final. A economia dos países mais ricos (ex: G7), com um forte peso na exportação nos bens de consumo baseia-se nestes pressupostos.

Diz-se há muito tempo que sem ovos não se fazem omoletas, como podemos desenvolvermos sem termos fundos para isso.
Não é com mais endividamento ao estrangeiro que se pode fazer esse desenvolvimento tão necessário para nos aproximarmos das metas Europeias.

Não, não somos um país pequeno.


Não, não somos um mercado pequeno.

Não, não somos um país de preguiçosos.

Poderia chamar exemplos de países mais pequenos e mais mal situados que são mais ricos, e produtivos que o nosso. O Luxemburgo com um grande número de portugueses é a economia mais produtiva da União Europeia. Made in Taiwan ou em qualquer outro país asiático sempre presente em tudo o que compramos. O Japão com tão poucos recursos naturais.

O mais difícil de ver é o que está à frente.


Temos um posicionamento geográfico extraordinário, pois somos o umbigo do mundo ocidental, muito por culpa dos timoneiros que tivemos e que agora nos faltam. Foram eles que deram ao mundo a disposição que hoje tem.

Todas as rotas de matéria-prima passam ao largo da nossa costa para irem para um qualquer país da Europa Central para que moldem essa matéria-prima para que seja distribuída de novo por todo mundo inclusive Portugal. Voltam os cargueiros a passar ao nosso largo.

A única coisa que se alterou nessa matéria foi a sua organização que passou para um bem de consumo. A este processo chamamos Design, materialização de ideias, isto é, transpor para a matéria a cultura, a tecnologia e os saberes desses países.


Já assim é desde os descobrimentos, pois muito embora os portugueses tenham encontrado o caminho marítimo para Índia, nunca fizeram o trabalho de casa tão explorado por Kant que encontrou o mundo sem sair da sua terra.

Temos cada vez mais gente à altura e ainda exportamos gente competente.
Podemos criar as infra-estruturas a isso necessárias, e mais do que isso utilizar as vias de um sentido que têm vindo a ser construídas não para importar, mas cada vez mais para transformar e exportar.


Terá sido um português que disse que Portugal seria um país sujeito ao turismo e aos serviços?

Qual é o país que sobrevive com uma economia forte com base nestes sectores?

Quantos países viram desbaratados os seus sectores piscatório e agrícola?

Quantos são os países lusófonos no mundo? E o potencial peso da sua economia?

E porque é que a França subsidia estudantes das suas ex-colónias, divulgando o francês como língua oficial?

Será para manter poder sobre elas? Não é a palavra mais forte que a espada.

O peso da Commonwelth não se tem vindo a alargar e a sobrepor ao da CPLP?

Não é a indústria musical e cinematográfica um veículo da propaganda norte americana que conseguiu concretizar o sonho de Hitler?

É necessária para Portugal uma estratégia global nacional para que nos possamos desenvolver."

Posto isto, tenho alguma esperança no plano da Estratégia de Lisboa e no Plano Tecnológico.

Estaremos cá para ver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito sinceramente começo a perder a paciência para este pseudo-país desenvolvido, que cada dia que passa se assemelha mais a um país de terceiro mundo, peço desculpa se ofendi algum país do terceiro mundo com a comparação, entre o quarto mundo e o terceiro, pronto.

Saiu hoje 2007 no Diário da Républica (publicação do Estado) uma deliberação de uma instituição de ensino do Estado, com cursos aprovados pelo Estado, que por acaso até compreende uma faculdade que forma Designers o seguinte:

Diário da Républica, 2ª série - N.º 122 - 27 de junho de 2007
Universidade do Porto
Deliberação (extracto) n.º 1210/2007
Secção V
Serviço de Informática
Art. 21º
1-...
2-...
...
g) proceder à prestação de serviços e apoio técnico de webdesign e de design gráfico digital;
...

Fim das transcrições.

Pois é mas esta Universidade não tem nenhum Técnico Superior de Design colocado no Serviço de Informática.

Então serão os Iformáticos Dsigners?

E porque é que os licenciados em Design não podem concorrer aos postos de trabalho dos licenciados em Iformática?

Quando isto se passa numa Istituição do Estado que lecciona licenciaturas em Design é muito grave.

É o exemplo de como os nossos impostos são bem utilizados para pagar ordenados a funcionários públicos que zelam por bem servir a sociedade criandos cursos e logo de seguida barrando o acesso ao emprego dos profissionais que formam.

Assim vai este país condenado à degradação progressiva.