domingo, junho 03, 2007

A agricultura

A agricultura é uma actividade que cada vez mais se degrada em Portugal.

Talvez seja essa a causa do esquecimento nas zonas mais cosmopolitas de um fenómeno basilar desta actividade outrora importante. Quando um agricultor pretende atingir um objectivo em termos de colheitas, geralmente investe na sementeira, e conforme a qualidade das sementes, e se lhes forem dadas as condições adequadas, estas desabrocharão numa planta saudável, com frutos de qualidade e em quantidade.

Ora esta metáfora ilustra de forma simples o funcionamento dum mercado. Se considerarmos os investimentos como a sementeira; a selecção de recursos humanos como a escolha de sementes promissoras; e as condições adequadas como tudo o que as sementes precisam para se motivar e desabrochar, decerto que as sementes darão em quantidade e qualidade o retorno esperado.

A falta de diferenciação num mercado provoca geralmente ajustamentos a prazo. Se a vantagem competitiva das empresas é similar - baixo custo obtido por falta de investimento nas sementes, nas condições e violando a legislação aplicável, deixa de existir uma vantagem competitiva, e apenas uma pode ser a que apresenta soluções mais económicas para o mercado.

Este baixo custo a prazo, desprestigia a actividade, o que faz com que haja empresas que não sendo geridas por designers e que comercializam outros bens e serviços que não resultam directamente da actividade de design, tornem oferta o que é objecto de uma profissão.

A busca de jovens estagiários que iludidos pela obtenção de experiência profissional, que se sujeitam a condições de trabalho que desvalorizam os seus conhecimentos, e assim que o estágio termina, são despejados para o desemprego (onde sempre estiveram) para procurar novamente um trabalho, já com uma nota de despejo no currículo, terá de terminar. Até parece que não sofreram já a triagem do ensino superior, e claro que precisam de experiência como em qualquer actividade, daí a sementeira.

Situações de jovens que saem aos magotes das universidades (1600 em 2006) para um mercado onde já se encontram actualmente cerca de 19600 profissionais (dados da DGES), que seguem como estagiários despejados com os seus computadores pessoais, com software pirata, e desvalorizando o esforço que fizeram ao prosseguir os seus estudos.

Por outro lado, as empresas estão num momento de purga. As práticas de "dumping" que não são de todo denunciadas e fiscalizadas por nenhuma entidade, e que deveriam ser pelas autoridades mediante denúncias, pois são de tal forma evidentes que começa a ser estranho não o serem.

Os preços praticados, não reflectem pelo menos os custos que acarretam, e seria muito fácil desmontar sectores inteiros que lucram o que entendem pois os seus custos não são considerados nem existem nos preços que praticam.

Assim, diversas casas dão a sua chancela a trabalhos de estagiários feitos sobre computadores carregados de software pirata, apresentam já um sem número de práticas ilegais, não só do código do trabalho, assim como do código do direito de autor, e do código de actividades comerciais.

Algumas (muitas) empresas de dimensão considerável no mercado, já perceberam que a "chico-espertice" nacional, já não é vantagem competitiva, e só se está a traduzir em altos custos em todos os trabalhos de adjudicação directa, que são a forma de financiar a participação nos concursos abertos a toda a gente, em que em n empresas participam, com k horas de trabalho, para receber um improvável retorno y. Ou seja n*k=y nunca será condição verdadeira.

A ineficiência do sector é evidente devido a este tipo de práticas, é um sector desprestigiado, desunido como nenhum outro, num mercado de "vale mesmo tudo", e que se prepara para entregar o ouro ao bandido, ou seja, aos clientes.

Assim é expectável que o "1º Encontro de Empresas de Design" seja pelo menos uma sessão colectiva de reconhecimento destas questões, e que de lá saia pelo menos o compromisso de se concorrer de forma leal no mercado, cumprindo toda a legislação em vigor e, quem sabe uma entidade disciplinadora (que ao nível empresarial não tem qualquer valor jurídico - não me recordo de entidades associativas privadas que o possam fazer, sem ser na base da denúncia para as autoridades de práticas de concorrência desleal, por violação da legislação).

Mais interessante seria que em bloco todas as empresas presentes assumissem que só contratam profissionais que assinassem um determinado código de ética, de deontologia profissional, ou de conduta, ou que todos os designers fossem obrigados a obterem uma carteira profissional, seja por restrições ao registo de insígnias distintivas e de desenhos ou modelos comunitários só por designers com carteira profissional, seja por uma auto regulação dos profissionais atribuída pelos órgãos legisladores.

Vamos ver qual destas opções serão tomadas, a bem de um mercado do design são em Portugal.

Os investimentos de hoje são o retorno de amanhã.

Sem comentários: